Friday, March 23, 2007

Cabo do Mundo

lá. onde o mar acaba e a terra começa, alimentam-se os peixes da pele humana. do riso dos outros, de todos os outros. de todas as figuras saindo de um quadro quinhentista. de um fresco. o pequeno quadro em grandes episódios, ensinando a história bíblica. o enamoramento de jacob por raquel o sacrifício do filho pródigo o combate de israel pelo fogo sagrado.

lá. onde a areia não é mais do que um nome. e onde os conceitos não possuem palavras, mas símbolos. como a casa. o pátio. a palavra esquecimento. e a palavra fértil. lá. onde o "navegueiro" não rompe mais as ondas. as cavalga. e dobra. e as esconde perante a música sinuosa da sereia. ela adormece. ela foge do meu colo e assume a posição de vestal, protegendo o templo da deusa. ela adormece. nasce e adormece. e morre outra vez. outra e mais outra.

aqui. onde permanece o fauno. e o sátiro. e o homem sentado vestido de verde. com que cor te surgirá o teu primeiro amor? com a cor da gaivota voando em passo acelerado para as ondas? com aquela cor que usaste no dia em que sacudiste o mar com os dedos? não acabes. fica. fica só. e aqui. no cabo do mundo e no cume da europa, roubando do meu sangue a minha frágil, mas tão trágica, imensidão.

Jorge Vicente

Wednesday, March 21, 2007

Convite para uma antologia em que participo :D




Convite


Apresentação (do n.º 4) da Antologia de Escritas




A Antologia de Escritas, organizada e editada pelo Professor José Félix, vem a lume pelo 4º ano consecutivo.

Este número tem a particularidade de ter um apêndice dedicado à Escrita Criativa, cujo texto é assinado pelo Professor Doutor José Gil, Professor de Teatro e Comunicação na Escola Superior de Educação de Setúbal.

A variedade e a diferença é feita pelos 21 autores que a compõem, originários dos mais diversos pontos do globo. Os P.A.L.O.P e a língua portuguesa são, nesta antologia, os soberanos.

A apresentação deste volume terá lugar na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, em Leiria, no próximo sábado, dia 24 de Março de 2007, pelas 16 horas.

Leitura dos poemas por Alice M. de Campos. Convido todos os leitores a estarem presentes neste evento.

Monday, March 19, 2007

aula especial

Convida-se toda a gente para aparecer na aula de quarta feira esta quarta feira dia 21 de Marzo de 2007 das 19.30 às 21.30 porque metade da aula o Marcus Farrajota vai palestrar sobre "auto-edição, edição independente, os fanzines e edição alternativa".

3 "estórias" do dia-a-dia


5ª Feira fui às compras e entre diversas coisas comprei 2 garrafões de água. No final do dia estaciono na minha praceta, que é inclinada e abro a bageira de onde prontamente salta vitorioso um garrafão, lutando pela sua fuga enquanto rebolava a uma velocidade vertiginosa pela rua abaixo....escusado será dizer que prontamente travei a rebelião, impedindo o 2ª elemento da quadriga de seguir o líder e capturando o 1º antes de ter atingido a avenida. Presumo que o seu plano era atingir a valeta, depois os serviços públicos de canalizações, desembocando no rio e atingir o mar. Hoje seus restos mortais jazem meios bebidos na minha cozinha. RIP!

Sábado, 3horas e meia a desmontar a *?%# de uma estante cheia de parafusos e a construir o quebra-cabeças de a conseguir encaixar toda dentro de uma carrinha passat, custou mas consegui, por fim, vou deitar ao caixote do lixo um saco, quando ouço um estranho som conforme este cai dentro do contentor: "M#*&$" - pensei eu, as chaves tinham ido juntamente. Com alguma perícia, uma ajuda da vizinha e uma vassoura, 5 minutos depois a situação estava resolvida e as chaves na minha mão.

Domingo, final do dia, bomba de gasolina na estrada para Coimbra,o vento frio do Norte arrefecia-me as mãos, mas o carro na reserva obrigava-me a sair e a alimentá-lo, de outra forma nunca conseguiria regressar à capital. Duas bombas, ambas ocupadas, opto pela da esquerda, ninguém fora do carro, pensei: já foi pagar, entretanto o dono do carro que estava na bomba do lado, atesta, vai pagar, vai-se embora, o carro seguinte na fila avança e eu continuo à espera, reparo que o condutor do carro da frente está lá dentro...passo-me...saio do meu carro....bato-lhe no vidro e digo-lhe delicadamente: o senhor importasse de avançar que eu quero pôr gasóleo? o condutor olha para mim e diz "estou à espera que me venham servir". Com um sorriso entre o glaciar e o amarelo digo-lhe, então por favor, chegue à frente enquanto espera, para eu poder atestar porque isto é uma bomba de self-service...

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Sunday, March 18, 2007

diferença e repetição (fábricas e florestas)

uma máquina resfolega. fausto era um cientista golém, por isso tinha que lâmina nas guelras dos animais dentro deles oráculos ventre cheio. os bidões abandonados. florestas carregadas de campos electromagnéticos. e troncos caídos abaixo. o meu templo é a vontade e a violência. o que não são árvores são encruzilhadas. os bidões abandonados. mesmo que não haja caminhos. a floresta era um espelho com os seus ramos e de vento apanhado pelos ramos.
tirava bocados do chão a fórceps do próprio chão, como se fosse filhos dele sepultados na terra, ainda por nascerem, uma máquina resfolega, como se fossem estilhaços humanos a copularem com as fragas com o rosto de peixes mercúrio. e os troncos possantes e trágicos desapareciam para cima no nevoeiro.
ele tinha consciência da aragem e do minotauro de troncos no nevoeiro. também gostava de ver uma fábrica recortar um horizonte sinistro, nas árvores, enforcados com as asas tristes eram falácias entre as cordas e eu não conseguia voltar.
e o mundo é uma bola a girar pateta no vazio. em revolta revoluções convulso. tu és um instrumento cadáver, uma música morte. mar martírio para continuar a marchar como uma linha de montagem numa fábrica. o excesso de viadutos, e os fantasmas de operários martelando metais. uma fábrica a chiar aços até ao infinito. o excesso de viadutos.
chuva artificial fornalha metalurgia. como uma linha de montagem numa fábrica à trepidação das máquinas e reviram os olhos diferença e repetição.
cães manipulados por gente estrangeira, pessoas enterradas na planície, com bocados de fora, o enterramento na terra, uma máquina resfolega na sua auto-cópula mecânica, é gente metalurgia que nos mostra os ossos da boca a rir com árvores de cianeto e pássaros enforcados. esses eléctrodos nas têmporas, sensores afundados no esqueleto é uma pirâmide de sangue.
uma mistura de vários aparafusados como se fossem estradas penduradas na noite. o dramatismo da electricidade obrigatória e sempre um grande mal entendido. é necessário que haja o sacrifício do animal como se cianeto próprio.
inevitavelmente a sua cabeça desmorona-se sobre o papel. e os troncos possantes e trágicos desapareciam para cima no nevoeiro.
quando a obsessão do martelo e depois tropeçam no arame farpado, continuava a esfrangalhar as vísceras, a desamarrar músculos dos ossos. porque fausto é um laboratório, porque fausto é uma experimentação. os animais mineralógicos no mercúrio, uma fábrica a chiar aços até ao infinito.
o luar folhas de ferrugem reflexo no óleo da estrada pela humidade tornada floresta, a humidade que inchou o chão e se levantou do chão em árvores estão cobertas por uma fina pele de bactérias um horizonte sinistro
porque os animais e os minerais, as membranas das células chamavam fausto. as árvores de folhas embriagadas e o fogo a subir pelas serras como uma fornicação do inferno. e os troncos encharcados chiavam enquanto fausto procurava cativar aquelas energias. e troncos caídos abaixo. uma máquina resfolega.
floresta metástases como se cianeto próprio raízes radiações escondidas debaixo das pedras o que se passava com os astros e com os planetas o excesso de viadutos, os baldios e os bidões abandonados. e ouvem-se o ranger dos átomos a sofrer uns contra os outros.
- quero enforcar-me um rio como corda.

Thursday, March 15, 2007

O Pranto de Lúcifer

o meu nome é lúcifer. o portador da chama. o deus babilónico das monções. nasci para que a palavra morresse, para que não mais encantasse. para que servisse apenas para alimentar as árvores e a pele do corpo. o corpo e a cinza. o deus vilipendiado pelo estrume das folhas mortas. acabadas. erguidas ao nível da lava e da pedra.

sou o deus do rochedo e do outono. do inverno que não acaba. do natal sem os presentes, sem o menino jesus, com as meias enforcadas numa moeda já gasta. acabada. sou o devorador das coisas humanas.

se morresse, tu me esperarias e nunca mais acordavas. sei que és criança e que vives no limiar do tempo. uma esfinge como a águia serena de tebas. a cidade do enigma. dos adultérios e dos incestos. o pai e a mãe. o irmão e a irmã. o perfume celebrado na luz dos sentidos. espero pelo orgasmo da noite.

se tu me esperares, promete-me que anoiteces o mundo. e que não tens qualquer esperança. o pranto é a desolação do homem que se rouba. que grita. e que assassina o seu filho dentro da lágrima caída. sou o deus da lágrima e da desolação.

sei que estou prestes a chegar e que morres lentamente. e que esperas pelo fim dos tempos. és santificado. és uma luz no interior da palavra, o deus persegue-te. eu lamento-me pelo teu verbo. e pelo teu rosto. sei que estou prestes a chegar. e que não partes. dormes na mesma cama, com os lençóis no mesmo olho escondido. acaso tens olhos? e boca? e prazer? és um homem santificado e o prazer persegue-te. como uma larva.

a tua noite é a minha noite. e sem o teu corpo, cairei na desolação. faz de conta que sou o anjo e que te amarei em todos os séculos. o tempo todo está para vir, apesar dos meus olhos serem frios e os meus cabelos de ferro. prometo que te amarei e que te empurrarei para o abismo. não há prazer sem queda. orgasmo sem choro. palavra sem silêncio.

já cheguei e ouço a tua voz. ela não existe. é um fogo mais intenso que todas as fontes caiadas que encontrei pelo caminho. todos os caminhos levam aos teus dedos. aos dedos que esfacelam, que assassinam, que roubam a alma. que existem. chego e ouço o teu choro. ele pede por deus. ele pede pelo anjo. pelo devorador das monções e dos deuses pagãos. choras e pedes. escondes-te no armário mais secreto e escreves o teu medo. apesar do sangue que cai. e da comida estragada. e dos assaltos. o deus assalta-te como uma pomba inflamada. leva-te para junto dele. tu vais. não morres.

já cheguei, mas não ouço nada. nem o simples respirar do sexo. tu não podes ter prazer. ou tens. és carne e fogo como todos os homens, mas és mais do que eles. és a humanidade que vive na sua noite. o deus que não acaba. o anjo que não esquece. o santo que faltava nascer. vives da pele e morres na escrita. és o grito asfixiado da humanidade, não tens voz. tens todas as vozes que já existiram.

cai a manhã. não morres. e acabas de chorar. alguém te ergue pelos olhos e diz-te que o tempo vai próximo. nunca cheguei porque o teu corpo é impenetrável. sou o deus das monções e do inverno sem fim. sou lúcifer. o anjo descaído. não sou santificado. como tu. sou o eterno fim. a filosofia. a letra inacabada.

carne viva
um pedaço de pele abandonado pelos abutres
tudo o que não existe
e que, sem cessar,
alimenta toda a humanidade.



Jorge Vicente

Sunday, March 11, 2007

Meditações Sobre Duarte Lobo II

uma vogal. duas. três. os cinco dedos de uma mão. a minha mão.

o fulgor religioso de uma superfície plana. escrever. não escrever. o
eclipse.

todas as folhas são uma montanha sem a superfície do lago, movem-se à
altura das mãos, com os olhos presos. o número. a cabala.

o Anjo

quatro vogais. o desenho. os quatro lados do poema. o fim. o
princípio.

o Entendimento

cinco vogais. a estrela de cinco pontas. o arroubo do corpo no acto
de escrever. a ave. o pássaro cintilante que te move os pés. o grito,
apenas o grito de uma cantilena suada. sem fim.

o luar.
a estrela

Índigo

o lugar onde nos sentamos na hora das refeições. a partilha do pão. o
tabernáculo. o novelo incessante que alimenta o chão. a vertigem da
terra. a raíz.

crescer em torno de uma bússula. os pontos cardeais. norte. sul.
este. oeste.

Oração

o momento claro da idade de ouro. a infância. o patriarca.

não sei de onde nasci, mas olho o espaço com os olhos dos homens. o
deus. a terra de todas as religiões. jacob. isaac. abrãao.

Ur

o primeiro poema
o verbo

Jorge Vicente (2)

(2) Este poema foi baseado num exercício de continuação do primeiro.
Ele consistia em escrevermos vogais com a nossa mão não dominante, ou
seja, a mão esquerda. Era um exercício longo que eu encurtei, pois o
exercício original levaria cerca de 2 horas a realizar-se. Eu fiz em
pouco tempo e com os olhos fechados. Novamente, decidi não explicar
nada. Apenas escrever um poema. Um exercício poético, como diria o
Constantino. Flashes de imagens em verso

Meditações Sobre Duarte Lobo

uma linha. duas. o choro. a tentativa de choro. esquecer-me que sou uma linha misturada numa infinidade de outras. o rebento.

descobrir um aglomerado de frases numa única sílaba. o requiem. a canção dos mortos. o estremecimento dos vivos quando me deixo escrever. a mão esquerda.

o coração entre as palavras
o embrião
a palavra nascida
do ventre

o risco

a serpente no início do corpo
a origem

o sentido que não passa por mim,
mas que é em mim
nos cantos da casa

o anjo

Jorge Vicente (1)

(1) Este poema foi baseado num exercício que fiz sexta-feira à noite. Ele consistia em desenharmos algo com a nossa mão não dominante, no meu caso, a mão esquerda. Tudo ao som de música (cantos tibetanos ou gregoriana) e com os olhos fechados. No final do exercício, deveríamos descrever a nossa experiência através de palavras. Eu apenas escrevi um poema.

Duarte Lobo foi um compositor português do século XVII. A obra que acompanhou o meu exercício foi o Requiem.

Thursday, March 08, 2007

Aqui está a minha alma…!


Mais uma vez esta texto vai beber ao nosso ciclo de palavras partilhadas.
Quem escreve hoje é o meu primeiro e recém-nascido heterónimo: Bárbara Sabino.
Um pouco de mim, dos meus pensamentos, muitos não consumados ou tão simplesmente relegados para um plano secundário.


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À primeira pessoa que me estenda um pouco de humanidade, irromperei com a insanidade de um crente, pelas páginas em branco do sonho.
É ai que guardo as promessas, os beijos e o toque que almejo, o frio ansioso da batalha da entrega, as tardes de cadência partilhada, a fé maior no que nos arrebata nos dias cinzentos…

Trauteio a nossa nova música, a que já sabia de cor, mesmo antes de teres chegado…tinha-a escrita e sublinhada, neste papel gasto, de tantas vezes remexido.
O olhar que reconheço não me trás qualquer inspiração ou devaneio venusiano, apenas o conforto de não perder de novo…

Decidi-me a viver no doce estar tumultuário, na bruma abandonada pelo desamor repetido.
Guardei-te aqui, num compartimento estanque da Razão e poupei o Coração, à mágoa que lhe despedaçou o pulsar entusiasta e imberbe.
Resolvi então, suster a delonga ofegante e, beligerantemente enlouquecida, vergar ao que é tão fácil, quanto vazio, mas que, por hora, me basta, ou tão-somente, faço por merecer…

Jogo, peça a peça, com a estratégia do que me exijo e permaneço, resolutamente, de venda no olhar dos afectos, das utopias e causas, que calejaram as páginas que virei…

Será que me entendes?
Que me entendo?

E a essa primeira mão estendida na névoa da multidão, oriunda da árvore do acaso, sucumbo e desfaleço em silêncio…
Abandono-me paulatinamente porque não suporto as duras palavras da Verdade, acerca da essência e de uma tal de alma, que vai perecendo nesta redoma de faz-de-conta…

E eis me sentada junto a uma lareira sem calor, vencida pelo cansaço do julgamento gratuito, da aceitação condicionada, das leis dos outros, das máscaras de tantos Carnavais, de risos afinados pelo compasso das lágrimas da solidão…
Alguém as enxuga nesta manhã em que, finalmente, já não chovem as carícias que fui guardando em vão……também não faz Sol, mas isso não me importa…não chove, só isso me basta!

Porque é tudo tão relativo, quanto o facto de estarmos aqui e isso da Espera, da Verdade e do Âmago Intacto, não serão apenas caprichos de um Deus que se esqueceu de mim?!

Vou construir um novo sonho, ou talvez um sonho antigo, moldado à medida dos meus anseios e depositá-lo nesta primeira mão, que me acolheu…neste primeiro dia de Inverno em que não chove…!

Fecho os olhos esgotados…terei, por fim, vendido a alma ao Diabo, a Plutão, a Hades, ou Lúcifer…não é o que fazemos todos, afinal?!

Bárbara S.

Londinium (baseado em "Lisboa que amanhece" de Sérgio Godinho)

A alva que desce na cidade
sossega teu corpo murmurante.
Silêncio.

O sol que se desprende
dos cabelos, o murmúrio da voz que
se despede. Em prece. Promessas de
uma noite talvez distante.

Os olhos que se despedem do amante.
A alva na cidade a renascer. Tua voz percorrendo as calçadas.
Londinium seca, murmurando
a manhã que se quer assim, como dantes.
Como se o silêncio fosse vento ondulante.

O autocarro que dobra a tua esquina,
a pressa de chegar e de partir.
O vento que move teus cabelos,
o tempo que é mais do que um amante.
O vento. Alento.A Saudade da alva a descobrir.

Lá longe, na planície, os galos cantam.
Os poetas sonham a alva o sol que há de vir.
Os amantes, como névoa, murmuram
murmuram a noite por partir.

Londinium, lá longe, é sentinela.
Teu corpo encostado na janela.
A vela. Os olhos, os cabelos que murmuram sonhos vivos.
Promessas de uma noite a descobrir.

Teu corpo, em sobressalto, acorda.
O telefone entre o corpo dos amantes.
Serenos, como se uma noite fosse um
manto de rosas pretas, deitadas no olhar
agreste da cidade. A vida.Mais um dia a descobrir.

Teus olhos esverdeados são como a Lua.
Londinium no teu corpo a sorrir

Jorge Vicente

P.S. Tentem se recordar da música e cantem

Tuesday, March 06, 2007

Para ti, Amizade...


Nas voltas, contravoltas e rodopios, em espaços fechados, demasiado exíguos ou estanques para vermos as suas paredes desabarem, é possível encontrar um fragmento de esperança…
Uma lâmpada de voltagem constante, pendurada num tecto de relento e desânimo.
No abandono que sussurram as ruínas, edifica-se uma fé renovada, plena de tudo o que nos pertence, porque jamais perecera aos achaques do tempo.
São afinal, módicas peças de um mundo maior, que nos envolve numa melosa segurança, que desdobra o agora em infinito.
Detém-se então, a cadeia das demoradas e redundantes dúvidas existenciais, para dar lugar, à ciência dos afectos dedicados e tantas (demasiadas!) vezes relegados, para planos menores.
Daquela luz emana o brilho, do que soubemos dar e hoje o Universo nos devolve, em tragos de uma ambrósia divinamente humana.
E o Amor tem tantas faces quanto as luas da Vida, tantos dias, quanto viagens pela memória, tantos recantos, quanto rotinas condenadas …tem tudo isso e o que mais desconhecemos, pelo compromisso que temos, para com o engano e o esquecimento.
Poderemos alguma vez homenagear com dignidade, esta abnegação que nos acolhe, numa vereda de caos e despropósito?!
Chegas sem sequer chamar por ti, estás tão perto que te sinto o calor da entrega, a tua harmoniosa vitória edificada em mensagens subliminares.
Na legenda de imagens eternas, desenham-se as palavras de conforto dos que escancaram a janela do curriqueiro, para preencherem as ranhuras dos desamores alheios.
E poderia continuar a colocar-te num simples pedaço de papel, mas prefiro sentir-te no murmúrio do ontem e no grito do agora e ainda no apelo desmesurado do depois, que paulatinamente se transforma, num auspicioso amanhã.
Esta é a minha singela homenagem a ti, Amizade, o amor dos amores.


Filipa Larangeira

Saturday, March 03, 2007

"CADERNOS DE FAUSTO"




prepara-se magnífica edição de "CADERNOS DE FAUSTO", 166 paginas