Thursday, March 08, 2007

Aqui está a minha alma…!


Mais uma vez esta texto vai beber ao nosso ciclo de palavras partilhadas.
Quem escreve hoje é o meu primeiro e recém-nascido heterónimo: Bárbara Sabino.
Um pouco de mim, dos meus pensamentos, muitos não consumados ou tão simplesmente relegados para um plano secundário.


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À primeira pessoa que me estenda um pouco de humanidade, irromperei com a insanidade de um crente, pelas páginas em branco do sonho.
É ai que guardo as promessas, os beijos e o toque que almejo, o frio ansioso da batalha da entrega, as tardes de cadência partilhada, a fé maior no que nos arrebata nos dias cinzentos…

Trauteio a nossa nova música, a que já sabia de cor, mesmo antes de teres chegado…tinha-a escrita e sublinhada, neste papel gasto, de tantas vezes remexido.
O olhar que reconheço não me trás qualquer inspiração ou devaneio venusiano, apenas o conforto de não perder de novo…

Decidi-me a viver no doce estar tumultuário, na bruma abandonada pelo desamor repetido.
Guardei-te aqui, num compartimento estanque da Razão e poupei o Coração, à mágoa que lhe despedaçou o pulsar entusiasta e imberbe.
Resolvi então, suster a delonga ofegante e, beligerantemente enlouquecida, vergar ao que é tão fácil, quanto vazio, mas que, por hora, me basta, ou tão-somente, faço por merecer…

Jogo, peça a peça, com a estratégia do que me exijo e permaneço, resolutamente, de venda no olhar dos afectos, das utopias e causas, que calejaram as páginas que virei…

Será que me entendes?
Que me entendo?

E a essa primeira mão estendida na névoa da multidão, oriunda da árvore do acaso, sucumbo e desfaleço em silêncio…
Abandono-me paulatinamente porque não suporto as duras palavras da Verdade, acerca da essência e de uma tal de alma, que vai perecendo nesta redoma de faz-de-conta…

E eis me sentada junto a uma lareira sem calor, vencida pelo cansaço do julgamento gratuito, da aceitação condicionada, das leis dos outros, das máscaras de tantos Carnavais, de risos afinados pelo compasso das lágrimas da solidão…
Alguém as enxuga nesta manhã em que, finalmente, já não chovem as carícias que fui guardando em vão……também não faz Sol, mas isso não me importa…não chove, só isso me basta!

Porque é tudo tão relativo, quanto o facto de estarmos aqui e isso da Espera, da Verdade e do Âmago Intacto, não serão apenas caprichos de um Deus que se esqueceu de mim?!

Vou construir um novo sonho, ou talvez um sonho antigo, moldado à medida dos meus anseios e depositá-lo nesta primeira mão, que me acolheu…neste primeiro dia de Inverno em que não chove…!

Fecho os olhos esgotados…terei, por fim, vendido a alma ao Diabo, a Plutão, a Hades, ou Lúcifer…não é o que fazemos todos, afinal?!

Bárbara S.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

olá :)

não há nenhuma razão para arrajares um heterónimo enquanto esse heterónimo não fôr mesmo um heterónimo.
um heterónimo para existir tem que ter uma personalidade literária autónoma e única e diferente do estilo do seu criador. isso não é um heterónimo nem de longe nem de perto. é um pseudónimo no máximo.

o processo de heteronímia não se constrói assim do pé para a mão. por isso é que os casos de autores com heteronomia, o fernando pessoa, claro, mas também o ilya kabakov nas artes plásticas... e mesmo esse pode-se duvidar. mas pelo menos recorre a um autor ficcional. alguns pintores/artistas talvez o tenham feito nas decadas de oitenta e noventa...

rafael dionisio
beijinhos

2:30 AM  

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