Friday, March 23, 2007

Cabo do Mundo

lá. onde o mar acaba e a terra começa, alimentam-se os peixes da pele humana. do riso dos outros, de todos os outros. de todas as figuras saindo de um quadro quinhentista. de um fresco. o pequeno quadro em grandes episódios, ensinando a história bíblica. o enamoramento de jacob por raquel o sacrifício do filho pródigo o combate de israel pelo fogo sagrado.

lá. onde a areia não é mais do que um nome. e onde os conceitos não possuem palavras, mas símbolos. como a casa. o pátio. a palavra esquecimento. e a palavra fértil. lá. onde o "navegueiro" não rompe mais as ondas. as cavalga. e dobra. e as esconde perante a música sinuosa da sereia. ela adormece. ela foge do meu colo e assume a posição de vestal, protegendo o templo da deusa. ela adormece. nasce e adormece. e morre outra vez. outra e mais outra.

aqui. onde permanece o fauno. e o sátiro. e o homem sentado vestido de verde. com que cor te surgirá o teu primeiro amor? com a cor da gaivota voando em passo acelerado para as ondas? com aquela cor que usaste no dia em que sacudiste o mar com os dedos? não acabes. fica. fica só. e aqui. no cabo do mundo e no cume da europa, roubando do meu sangue a minha frágil, mas tão trágica, imensidão.

Jorge Vicente

1 Comments:

Blogger Bandida said...

ficam por onde andam. as palavras. e tu.




beijo


B.
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4:28 PM  

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