Thursday, February 22, 2007

Estudos do EU


Este é o primeiro texto, filho/fruto dos nossos exercícios conjuntos de palavras...a vocês, meus colegas e professor, o dedico.


Não é que não sinta, nem sequer que desaprove a euforia dos outros, simplesmente estou dormente…
E como um qualquer membro corpóreo que adormece, levo o meu tempo a retomar a sensação de possuir qualquer coisa que me entranhe, uma simples parte integrante de um ego maior, de uma esfera de limites empolados ou austeramente menosprezados pelos que o desconhecem.
Viver e amar, tocam-se por breves e escoados instantes e, como uma criança que brinca numa caixa de areia, vão-se arrastando para buracos desordenados, partes de uma construção prostrada, por um devaneio qualquer.

Não te devo, nem receio, não te soletro porque cosi os meus lábios secos pela paixão fortuita ou condenada pela insanidade…
Nos meus cadernos de palavras vãs, de episódios de uma almejada longa-metragem, empreendo um argumento maior, bem maior que eu e que os passos que consigo dar.
E o filme corre a 8mm, pouco maior que a cadência dos acontecimentos narrados em voz-off…

Caiu e retomo o percurso, ainda que por vezes me deixe estar confortavelmente a admirar os joelhos esfolados e a saborear a aridez da terra…é áspera, tal como a última recordação que tenho de ti…

Tenho o dia todo para me iludir e no entanto, não o faço, porque loucos são os que se alimentam de luzes intermitentes, como os sinais avariados da Avenida.

E escrevendo consigo o que quero e nem tanto o que necessito… e ponho marcha-atrás na minha infindável lista de prioridades….volto a mim e ao meu imenso e aveludado silêncio.

Arranjo e desarrumo, aprumo e desmancho, o tecto e as paredes, os objectos, as vozes e os desacertos…quem merecerá pertencer ao meu mundo de júbilos perenes?

Deveria talvez rodear-me, de previsíveis auto-retratos, pedaços do meu ser desgastado pelo indolente e inesgotável pensamento…
E eis que se rarefaz e perco o fio condutor, da sensação que tentava recuperar…animam-se os vazios emocionais que preencherei em seguida…

Deus e o amor, semânticas rocambolescas, arte sugestionada, páginas de vida, telas pinceladas de afectos, léxicos forjados, gramáticas indefectíveis, terapias milenares, freudianismos incestuosos, filosofias de ponta, quotidiano versus real, ontem antónimo de agora e fragmentos de tudo isso e do “para além”, confundem-se numa vaga e auspiciosa percepção de mim…

Para quem pretenda um breve resumo, um trecho sucinto, um esquiço elucidativo deste tudo que se passeia sem sensatez nas minhas palavras, lamento, mas ainda estou no prefácio de uma intrincada existência.

P.S. Texto também publicado no meu blog http://laranjanacidade.blogspot.com

1 Comments:

Blogger rafael said...

olá

achei muito bom

...
curioso a conversa que tivemos sobre apropriação. a parte dos "filmes" é (entre aspas) da mariana. mas, evidente, nós escrevemos coisas que ouvimos e lemos, reescrevemos, porque de facto a tua filmografia já é diferente.
assim reciclamos as palavras dos outros, o que ouvimos e que lemos.

gosto particurmente do final. "prefácio de uma intrincada existência".

ou esta "Tenho o dia todo para me iludir e no entanto, não o faço, porque loucos são os que se alimentam de luzes intermitentes, como os sinais avariados da Avenida." que é um parágrafo profundamenet original.

1:56 PM  

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