Thursday, May 10, 2007

Excerto

Gostava de partilhar este pequeno excerto de Al Berto... que também (tal como a 'Laranja') me tirou o fôlego logo pela manhã... começa-se bem o dia :)

“O tempo sempre esteve aqui, e eu passei por ele quase sempre sozinho.
No entanto, recordo: deixaste-me sobre a pele um rasgão que já não doi. Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto, fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.

Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar. Agora, odeio-te por não me pertenceres mais. Odeio-te. Abro os olhos. Regresso ao meu corpo e odeio-te. E, quem sabe se no meio de tanto ódio não te perdoaria – mas ambos sabemos que o perdão não existe.

Se fugias, perseguia-te. Mas o olhar começava a cegar. Sentia-te, já não te via. E o pior é que o tacto também esqueceu, rapidamente, a sensualidade da pele e o calor do sexo. O rosto aprendido de cor.

Hoje, tudo se sobrepõe. Nomes, rostos, gestos, corpos, lugares… um montão de cinzas que me deixaste como herança.

Não devo perder tempo com o ciúme. A paixão desgastou-me. E nunca houve mais nada na minha vida – paixão ou ódio.
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te.”



Al Berto
In “O Anjo Mudo”

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

é lindo por demais né?

10:04 PM  

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