Tuesday, December 11, 2007

Exercício de escrita criativa em que nos são dados alguns elementos para a construção de um texto... o resto é connosco.

Os elementos são:
Estrada, Floresta, Vidro, Chave, Clareira, Lago, Animal, Casa, Muro

Eis o meu resultado:

Estrada às curvas direitas de pedras, plana, sem fim à vista, de pedras na estrada, mato nas bermas, mato não, ervas, mais ao lado árvores frondosas velhas, perde-se de vista, plano para lá das árvores, ao fundo muito longe algumas mais. Finalmente a estrada é interrompida por um caminho que acaba por levar a uma densidade de árvores... uma floresta que nem sabia ali existir. O sol aquece por entre as folhas, ouvem-se pássaros, passos mas silêncio. Tranquilo calor de silêncio quente.

Entretanto nesta envolvência, tropeço numa garrafa vazia de vinho, garrafa verde de um vinho qualquer. Suja de terra de floresta. Continuo a andar ao reparar em algo diferente de um tronco. Uma chave, grande, velha como as árvores velhas desta floresta velha, enferrujada, duas entradas, maior que a minha mão, pesada como uma pinha nova, que contaria ela se falasse? Meto-a na mochila. É boa para a minha parede da sala.

Surge uma clareira mais à frente, à esquerda, de meter medo. Parede redonda e densa de escuridão e folhagem que me ultrapassa a imaginação e me mata logo ali a curiosidade. Nem um passo mais.

Rapidamente me afasto passando uma pequena subida. Eis que surge um lago do lado direito, com uma luz esplendorosa a erradiar reflexos nas folhas, troncos, eu... rãs calam-se à minha presença. Logo chafurdam para as profundezas da água enquanto aguardam pacientemente, como quem não tem mais nada para fazer, que eu me retire do espaço que lhes pertence, que logo tomam conta ruidosamente mal eu lhes faço meia vontade porque fico escondida a ouvi-las “gritar”. Acabo por ceder completamente. Venho-me embora.

Mais à frente está um coelho a olhar para mim, a ruminar, sereno, impávido à minha presença. Parece que me olha nos olhos e me enfrenta, do seu baixo pedestal. Ignoro-o mas com certa relutância. Tem um ar um pouco maléfico do qual me afasto rapidamente. Contraiem-se-me os músculos de medo. Sinto-me parva pela razão.

- Olha, uma casa linda!
Aproximo-me mas com um formigueiro no estômago. Tem um ar abandonado mas uma casa já não pressupõe um simples coelho ou rã... mas algo do nosso tamanho e suficiente para nos enfrentar... parece ter sido deixada de repente. A loiça está a escorrer à janela de vidro partido, molas nas cordas, sem ruídos... deixaram de se ouvir os pássaros mas oiço as rãs o que me conforta de alguma maneira. Mantém-me presa à realidade. Estou calma porque ouço as rãs... mas atenta ao silêncio porventura absoluto.

Avanço devagar. Tem um portãozinho onde deveria ter sido um jardim. A casa tem 2 pisos. O de baixo está completamente vandalizado, portas fora, colchões queimados. O 1º parece intacto, subo as escadas para espreitar lá para dentro. Como pensava, quem não voltou, pensava mesmo que voltava em pouco tempo. Em cima de uma mesa enorme de madeira repousa um tacho com uma colher grande dentro... um casaco numa cadeira... um banco caído...
Ansiedade... rapidamente desço as escadas, contorno a casa e tento sair dali. Ponho-me ao caminho já sem saber porque alguma vez me pus a um caminho... já nem parece o mesmo. Já não oiço rãs já nem sei à quanto tempo. O coração dispara. Este caminho sobe, tem pedras enormes, obstáculos monstros que já não pertencem à mesma estradita. Já não há calor, nem luz esplendorosa, nem pássaros, nem rãs. Já só oiço a minha respiração difícil e as pedras a rolarem atrás de mim, passos dados, pedras atrás. Já não há arvores velhas mas novas e rebeldes, todas cruzadas, obstáculos em caminho que já não caminho e mesmo rápido não sei por onde vou quando de repente o maior obstáculo humano... encontro um muro à minha frente no meio da vegetação que nem consigo contornar e não vejo nada. O Coração quase me salta do peito e eu já não oiço mais as rãs!

4 Comments:

Blogger rafael said...

vim aqui reler este teu texto. está belíssimo.

2:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

Deixo-vos convite para visitarem a minha página sobre técnicas, conselhos e exercícios de escrita criativa. Intitula-se Palavra Criativa e o endereço é:

http://palavracriativa.googlepages.com

Obrigado pela visita, JM

6:30 PM  
Anonymous Anonymous said...

As minhas mãos estão sobre a estrada aquecida pelo sol...Imagino-me numa daquelas rochas gigantes aquecidas pelo mesmo e o sabor da água salgada ferve na minha boca.
O meu instinto animal leva-me ao encontro com o desejo de matar para ter, no entanto desvanece rapidamente.
Dou por mim a olhar um pedaço de vidro que apenas estava ali qualquer sinal de existência a não ser o valor que cada ser que por ele passava lhe atribuía.

Recordo o meu reflexo numa poça gigante, idêntica a um lago. Vejo apenas água, o sacana não me quer dar a própria imagem, se é que esta existe.

Não sei dar sentido à palavra casa, muito menos à palavra Floresta e por estranho que pareça é este o muro que separa a minha imaginação de uma verdade estupidamente fria e cruel.

6:43 PM  
Anonymous Anonymous said...

*que apenas estava ali sem dar qualquer sinal de existência

6:45 PM  

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