Thursday, January 22, 2009

a fábrica dos textos

"Deste esforço que acompanha a criação são quase sempre documentação impressiva os "papéis" de trabalho deixados pelos escritores; quase sempre, porque alguns - Camilo ou Jorge de Sena, por exemplo - legaram-nos estranhos autógrafos sem rasuras, como se o acto de escrita só neles começasse quando a forma já tivesse sazonado numa obscura maturação, toda mental. São raros, porém, tais casos de aparente fluência; as mais das vezes, esquemas, esboços, borrões, cópias emendadas (manuscritas ou dactilografadas) e provas tipográficas, se não exemplares impressos, onde foram lançadas ainda correcções, espelham os percursos, ora mais ora menos sinuosos, do germinar criativo. Alguns autores, por não quererem que olhos estranhos pousem nessa "intimidade" insatisfeita, tomam a decisão dolorosa de destruir os seus manuscritos"



Ofélia Paiva Monteiro, "Ostinato Rigore": A Edição Crítica das Obras de Almeida Garrett", in AAVV, "Crítica Textual e Edições Críticas", CLP, Coimbra, 2006, p.40

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Dimares:
"Alguns autores, por não quererem que olhos estranhos pousem nessa "intimidade" insatisfeita, tomam a decisão dolorosa de destruir os seus manuscritos"
E que verdade que é esta última frase...

7:05 PM  
Blogger Alexandra Blogger.com said...

já pensei em fazer isto muitas vezes, mas depois dá quela dor no coração e então eu desisto.

9:35 PM  

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